A discursividade do terror na midiatização de uma tragédia: a cobertura internacional das enchentes no Rio Grande do Sul
DOI:
https://doi.org/10.22297/2316-17952025v14e02503Palavras-chave:
Discurso, Enchentes no Rio Grande do Sul, Mídia, SentidoResumo
Com este trabalho, objetiva-se discutir a discursividade e a produção de sentido na cobertura jornalística do acontecimento das enchentes, ocorridas no ano de 2024, no estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Trata-se de problematizar a discursividade operada pela mídia jornalística internacional, disposta em plataformas eletrônicas, em dizer e cobrir a tragédia no sul do Brasil, enquanto produção discursiva sob a minúcia de um léxico atrelado ao terror, ao desespero e ao caos social. A partir dos postulados de Michel Foucault (2005, 2006), Gomes (2003), Thompson (2009), Courtine (2011), dentre outros, procede-se com a análise discursiva de manchetes dos jornais The Economist, Le Monde, The Guardian e Aljazeera as quais retratam a tragédia do sul do país, via efeitos de sentido de onipresença e de imparcialidade. Tais materialidades amplificam a irrupção de um acontecimento cujo acompanhamento se efetiva à luz de uma evidência calibrada, oportunizado em sinuosas estratégias de controle do dizer. Entende-se que a dizibilidade que subsidia a midiatização da tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul opera uma política de fazer ver e sentir, mediante um adestramento do olhar para o cenário de caos e de terror. Sob o efeito do visível, a mídia jornalística trabalha o caráter dogmático do acontecimento, provocando sentidos de identificação, de expectativa, de generalidade e de sofrimento coletivo.
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