AS FABRIQUETAS DE QUEIJOS ARTESANAIS EM ALAGOAS, BRASIL: SABER-FAZER, RESSIGNIFICAÇÕES E IMPASSES NA LEGALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES
DOI:
https://doi.org/10.33237/2236-255X.2025.6928Palavras-chave:
Derivados de leite, Produção artesanal, Agroindústria familiar, Legislação sanitária, AlagoasResumo
A produção e comercialização de derivados de leite artesanais são atividades agroalimentares difundidas no Nordeste brasileiro, mantidas, principalmente, por produtores rurais vinculados à agroindústria familiar. Com base nessa abordagem, este artigo tem como objetivo analisar as dinâmicas de elaboração desses alimentos em fabriquetas de queijo de Alagoas. O recorte empírico utilizado foi o Território da Bacia Leiteira (TBL), localizado no sertão do estado, devido à sua configuração econômica, social e cultural, que está ligada ao desenvolvimento da bovinocultura leiteira e à expansão das unidades de processamento de produtos lácteos. A metodologia está fundamentada em pesquisas teóricas, documentais e de campo. As investigações empíricas ocorreram entre 2019 e 2021, período em que foram identificadas 22 unidades de produção. Em 2024, foram efetuados novos trabalhos de campo que tiveram como propósito atualizar as informações coletadas. Nessas ocasiões, verificou-se a continuidade das práticas queijeiras nas fabriquetas. Embora esses estabelecimentos desempenhem papel importante no processamento e distribuição de queijo e manteiga nos circuitos de mercado local e regional, seu funcionamento é informal em relação à legislação vigente. Diante das pressões dos órgãos de inspeção sanitária e da ampliação da capacidade produtiva, as fabriquetas adotaram processos de readequação e especialização técnica, que ressignificaram os saberes tradicionais e as práticas artesanais de elaboração dos derivados de leite.
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