Poetas populares do Nordeste e a posição de autoria: uma perspectiva discursiva de letramento
DOI:
https://doi.org/10.22297/2316-17952025v14e02513Palavras-chave:
Poesia brasileira, autoria, letramentoResumo
O vasto alcance da função poética da linguagem, tal como veiculada entre poetas populares do Nordeste brasileiro, parece afastado dos usos do português brasileiro cotidiano. Todavia, esta função se faz notar pela retomada da relação entre oralidade e escrita, incluindo seus vestígios de herança da Grécia Antiga, que passa pelos usos cotidianos da linguagem. Neste artigo, o objetivo é abordar o debate sobre esta alteridade entre oralidade e escrita, a partir de uma noção de sujeito descentrado (da Psicanálise lacaniana e da Análise de Discurso), que fundamenta o conceito de autoria. E demonstrar de que modo a posição de autoria pode ser indiciada nessas produções populares. Para isto, foi analisado um corpus formado por poesias de Zé da Luz e Leonardo Mota sob a perspectiva discursiva de autoria. Como resultados, apresentamos um debate sobre o controle da rima e da ambiguidade como formas de assegurar o controle da deriva dos sentidos e garantir a retroação do dizer, dois pressupostos para instalação da posição de autoria.
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